Obra protegida por direitos autorais

Creative Commons License
Histórias de Terror by Paulo Enrique Garcia is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.

O site Contos e Histórias de Terror, proíbe qualquer republicação de todas obras contidas aqui com direitos a Paulo Enrique Garcia. Sejam elas em sites, blogs e youtube. Todos infratores serão penalizados de acordo com as leis de direitos autorais brasileiras.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Historias de Terror - Amor de mãe [ Relato Sobrenatural ]

 

Historias de Terror - Amor de mãe

Semana passada eu estava assistindo a um programa de televisão, desses do tipos que mostram experiências sobrenaturais reais e decidi contar essa história que tem me assombrado desde que eu tinha 12 anos. Na época meu melhor amigo se chamava Mateus. Nós nos conhecemos na pré-escola e nos tornamos inseparáveis. 

Nós estudávamos juntos e Mateus morava uma rua abaixo da minha. Ele morava somente com sua mãe, seu pai era um homem muito estranho e sua mãe se divorciou porque ele era abusivo. Eu me lembro dele, estava sempre irritado, olhava torto para mim e andava sempre resmungando.

Mateus nem podia escutar falar do pai ele ficava com medo e triste. Uma vez ele me disse que se um dia sua mãe o mandasse morar com o pai ele fugiria de casa. Ele odiava o pai de verdade.

Todos os dias nós voltávamos da escola juntos. Caminhávamos os quatro quarteirões até minha casa onde eu deixava minha mochila e depois íamos para sua casa que tinha um quintal grande onde brincávamos até anoitecer. 

Dona Clara, mãe de Mateus, sempre trazia suco de laranja e bolachas quando davam as seis da tarde. Isso era uma rotina diária que durou anos, até um dia agosto de 1992. 

Meu amigo me deu a notícia de que sua mãe estava com câncer e as coisas começaram a mudar. 

Eu continuei a ir para casa de Mateus todos os dias, mas ele não era o mesmo. Eu via Dona Clara definhando pouco a pouco e aquilo me doía muito, pois ela era como minha segunda mãe. Eu a escutava vomitar nos dias de sessões de quimioterapia enquanto jogava vídeo game na sala. Foram meses muito dolorosos.

Um dia, acho que foi no mês de dezembro porque eu lembro que o Natal estava próximo, chegamos a casa de Mateus e ele me disse para esperar de fora. Sua mãe não estava bem e precisava descansar.

Nós Passamos pelo corredor do lado e fomos brincar no quintal. Quando entardeceu, escutei dona Clara chamando Mateus. Eu olhei para trás e vi somente sua silhueta pelo vidro trabalhado da porta. Ele entrou e voltou com nosso lanche.

Isso se repetiu por algumas vezes até que um dia eu precisei ir ao banheiro. Mateus disse que era melhor eu ir embora, eu insisti e ele concordou, mas estranhamente veio comigo para dentro, quando normalmente ele esperaria lá fora.

Entramos, então eu notei que a casa estava desarrumada e fedendo. Pensei que por estar doente, dona Clara não dava conta de limpar a casa que era sempre impecável. Fiquei com dó deles, pensando que eles deviam ficar com vergonha por não poder limpar a casa.

Passamos pela sala e entramos no corredor. O quarto de Dona Clara ficava no fundo e a porta estava meio aberta. Ela estava deitada na cama, trocamos um olhar rapidamente e Mateus correu e fechou a porta.

- Desculpa mãe - Disse ele.

Usei o banheiro e logo voltamos para o quintal.

No dia seguinte Mateus não foi a escola e eu me preocupei. Quando eu cheguei em casa meus pais me chamaram para conversar. Nós sentamos na mesa de jantar, eles estavam assustados e preocupados. Minha mãe especialmente, ela lutava contra as lágrimas e esfregava as mãos.

Me preparei para escutar a notícia da morte de Dona Clara, mas oque eu escutei nem eu mesmo pude acreditar.

Dona Clara havia falecido há duas semanas atrás. Com medo de ir morar com o pai, Mateus não contou a ninguém e continuou agindo como se nada tivesse acontecido. O hospital onde ela fazia as sessões de quimioterapia havia mandado alguém ver por que ela não estava indo. Eu nem consigo imaginar o que passava na cabeça de Mateus para esconder a morte da mãe. A dor pela perda e o medo de ir morar com o pai. 

Para sorte de Mateus ele foi mandado morar com uma tia no Ceará. Eu falei com ele algumas semanas depois e ele me contou que estava feliz, a irmã de sua mãe era tão amorosa quanto Dona Clara e ele não tinha que ver seu pai. Esse foi o meu último contato com Mateus.

Somente dias depois eu me dei conta do fato que tem me assombrado por toda vida. Durante as duas semanas anteriores a descoberta do cadáver eu escutei Dona Clara chamando Mateus várias vezes para o lanche e vi sua silhueta na porta. Mas pior do que isso foi o dia que eu precisei ir ao banheiro e vi Dona Clara pela porta do quarto. Eu nunca vou esquecer o que até hoje me gela até os ossos, o rosto de dona Clara me olhando e sorrindo.

Nenhum comentário: